A Copa do Mundo é nossa?

O povo brasileiro comemora esfuziante a conquista para sediar a Copa do Mundo em 2014. O governo brada aos quatro cantos todas as vantagens e benefícios que ela trará para o país: será a solução de todas as nossas mazelas! Mas será que é bem assim?

Serão realizados investimentos importantes, melhorias em transporte, segurança, turismo e serviços públicos, criando-se milhares de empregos. Mas tal destinação do dinheiro público já não seria esperada, independentemente de eventos esportivos de grande porte? Será que o país precisa sediar uma Copa do Mundo, para investir em segurança e criar empregos? É claro e óbvio que há benefícios com a realização do evento, mas será que o Brasil está em condições de percebê-los? Será que nosso país não possui outras prioridades?

Um estudo do Departamento da Indústria da Construção da Fiesp revelou que nenhum dos 27 estádios disponibilizados pela CBF preenche os pré-requisitos exigidos pela FIFA. As reformas necessárias para o Mineirão ou o Morumbi, por exemplo, consumiriam dinheiro suficiente para a construção de, ao menos, dez modernos hospitais públicos.

A realização dos Jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro implicou a construção do estádio do Engenhão. Para se ter uma ideia, no início das obras, em 2003, o orçamento previa um custo de R$ 60 milhões. Ao final, terminado às pressas na semana do Pan, o estádio saiu por R$ 380 milhões, e permaneceu durante todo o evento com parte da construção das arquibancadas ainda inacabada. A simples manutenção para o funcionamento dessa arena custa R$ 400 mil mensais.

No mesmo sentido, os custos da reforma exigida para que o Maracanã possa ser palco da final da Copa do Mundo já passaram dos R$ 430 milhões iniciais para R$ 500 milhões. Tal investimento será bancado com dinheiro público. Levando-se em conta o histórico de obras públicas similares, esse valor com certeza irá aumentar até a finalização, em 2012.

Aliás, o Maracanã é um caso à parte. Em 1999, para a realização do mundial da FIFA, sofreu uma reforma que consumiu mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos. Antes do Pan do Rio, novas obras custaram mais R$ 200 milhões, e, mesmo assim, o estádio precisa de novas reformas?

Após a definição das doze cidades-sede da Copa 2014, os gastos projetados para a construção e reformas dos estádios já subiu mais de 300%, chegando a R$ 10 bilhões, dos quais 75% com verbas públicas.

Para ilustrar meu raciocínio, de acordo com levantamento realizado pelo Planeta Sustentável, o mesmo valor gasto pelo Governo nos estádios brasileiros poderia ser utilizado para: levar água tratada a 2,2 milhões de casas e coleta de lixo a 2,1 milhões, financiar a construção ou compra de 480 mil casas populares, levar luz a 1,6 milhão de pessoas, ensinar 600 mil jovens e adultos a ler e escrever, além de levar o programa Saúde da Família a mais 2 milhões de pessoas.

Por mais que a esmagadora maioria da população esteja iludida, na minha modesta opinião a realização da Copa do Mundo no Brasil apenas reflete interesses empresariais envolvendo gastos públicos. Além de ter o privilégio de possuir o Governo como “cliente” e receber infindáveis incentivos fiscais, as empresas envolvidas poderão explorar toda a lucratividade das obras por décadas.

Assim, vejo que o povo brasileiro, enquanto pensa que se diverte, contribuirá, com seu dinheiro e seu suor, para o enriquecimento de poucas empresas privadas que possuem estreito contato com o alto escalão do Governo. Aliando a desenfreada política assistencialista à conquista para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, Lula consegue reeditar, em pleno século 21, a famosa política do Pão e Circo.

 

*Fontes: Orçamento Copa 2014 (conversão a partir do valor estimado em dólares), CBF, Fifa. Orçamento alternativo: números recentes dos ministérios do governo federal, IBGE, site Contas Abertas, Agência Brasil, FGV.

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