O profeta e o picareta

Após a vitória de Dilma Rousseff e a quebra do meu notebook confesso que, momentaneamente, perdi minha inspiração para escrever. Entretanto, mesmo a fantoche petista prestes a subir a rampa do Planalto e ainda que meu instrumento de trabalho não tenha retornado da assistência técnica, volto a dirigir-me aos leitores para um desabafo.

Ontem fui bombardeado pela matéria sobre a prestação de contas do governo Lula. Não, o que me surpreendeu não foram as diversas obras elencadas pelo presidente que ainda se quer saíram do papel. Com isso já me acostumei. O que me causou espanto e medo foram as palavras de José Dirceu quando questionado como se sentia retornando ao Palácio do Planalto: “Nunca saí daqui”,  respondeu o irônico petista.

A frase de Dirceu parece ter sido extraída do raciocínio de outro político brasileiro. Lembrei-me quase que instantaneamente do famigerado discurso do saudoso Rui Barbosa, quando “profetizou” no Senado Federal, em 1914:

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.

Durante a campanha presidenciável, recordo-me de um quadro do programa CQC gravado em um evento com a presença de Dilma e Palocci. Salvo engano, Danilo Gentili foi quem perguntou à então candidata se em seu governo Zé Dirceu atuaria nos bastidores ou descaradamente na frente de todos como Palocci.

Com a empáfia de quem despreza a tudo e a todos que não se traduzem em seus interesses pessoais, Dilma não respondeu. E não precisava. Qualquer cidadão um pouco mais atento já sabia que o chefe do esquema do mensalão continuava trabalhando nos bastidores do governo, protegido por painho Lula.

O que não passava pela minha cabeça era o absurdo retorno do líder do mensalão antes mesmo da posse de Dilma. No evento de ontem, Dirceu mostrou ao povo brasileiro que o jingle de campanha de Serra era a mais pura verdade: “eu tenho muita pena de quem não percebeu que votar na Dilma é votar no Zé Dirceu. Toc toc toc, bate na madeira, Dilma e Zé Dirceu, nem de brincadeira”. De mau gosto.

Parafraseando Luís Inácio, nunca na história desse país houve uma quadrilha tão perigosa e poderosa, a ponto de criar a maior rede de corrupção em um país historicamente corrupto. Assim, a absolvição prestada pelo povo brasileiro nas urnas, simbolizou a materialização do discurso ouvido no Senado em 1914.

Quase cem anos após as “profecias” de Rui Barbosa, penso que no Brasil do PT, tenho vergonha de ser honesto. Mais do que isso, no país de Zé Dirceu e Palocci, sinto a dor da vergonha de ser brasileiro.

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